quarta-feira, maio 19, 2010

À espera de um lar

Claudemir Schmitz


Pela BR-101 passam, durante a temporada de Verão, mais de 50 mil veículos diariamente. O que ninguém vê é o que acontece na Casa-Lar Irmã Carmen, entidade que fica a 100 metros da margem da rodovia, em Araranguá. Ali as vidas de três jovens se encontram.

De nomes fictícios para proteger as identidades, Fernanda, 14 anos, Guilherme (foto), 13, e Rodrigo, 15, aguardam que, um dia, um daqueles milhares de carros que voltam para casa, das divertidas férias, parem e os levem para um lar onde possam encontrar o carinho e o afeto que só uma família pode oferecer.


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Para os três adolescentes, a esperança de encontrar um lar adotivo passa, assim como os carros da BR, à medida em que a vida avança. Quanto mais velhos, menores as chances de encontrar uma família interessada em dar-lhes acolhida definitiva.

Guilherme e Rodrigo

Guilherme, 13 anos, chegou à Casa-Lar há cinco anos. Ele faz parte de uma família de sete irmãos. Todos passaram pela entidade. Hoje só restam na instituição o garoto e o irmão mais velho, Rodrigo. Ao longo dessa espera para serem adotados, eles viram a adoção dos irmãos.

Duas irmãs foram adotadas por famílias de Araranguá. Uma outra menina, que nasceu com deficiência leve, provocada pelo uso de drogas pela mãe, está com um casal de Santa Catarina. O contato com essa irmã é pouco frequente.

No final de 2008, outros três foram adotados por um casal francês. Eles tinham cinco, sete e oito anos de idade quando foram morar na Europa. Separados pela distância, Guilherme e Rodrigo mantêm contato com os irmãos, através de e-mails e telefonemas.

No entanto, nos últimos meses, a comunicação vem se tornando difícil. Os três que vivem na França estão desaprendendo o português. “Eu tenho muita vontade de aprender francês para poder voltar a falar com eles, pois sinto muita saudade”, diz Rodrigo.

Fernanda

Já Fernanda está na casa há quase dois anos. Foi levada até a instituição após denúncias de vizinhos. A mãe deixava a menina, na época com 12 anos, sozinha com as três irmãs. Uma de três, outra de quatro e uma de nove anos. O destino da mãe era festas noturnas. Quanto ao pai a garota prefere não comentar.

“Hoje eu não tenho mais vontade de voltar para a casa. O que eu quero é ser adotada”, conta Fernanda, que já viu as três irmãs ganhar novas famílias. “Eu prefiro mil vezes que elas estejam lá com uma nova família do que estar aqui e não ter a perspectiva de ter uma família”, desabafa a menina.

Um sonho que parece distante

Mesmo com esperança de ganhar um lar, Fernanda sabe que isso não vai ser fácil. Atualmente existem quatro menores na fila de adoção, na Comarca de Araranguá. Todos eles são adolescentes. Porém, para ganhar uma nova família precisam ter alguém disposto a receber não mais uma criança, mas sim um jovem.

Preferência por crianças

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 80,7% dos interessados em adotar exigem crianças com, no máximo, três anos, ao passo que só 7% das crianças cadastradas possuem essa idade. “As pessoas acham que é mais fácil moldar e educar crianças. Já um adolescente elas pensam que seria difícil adaptar ao novo lar, mas isso é puro preconceito”, considera a assistente social judiciária da Comarca de Araranguá, Jaira Gomes.


Para saber como adotar uma criança, entre no site do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

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